O PROCESSO DA TRAIÇÃO

O Fim Histórico de Portugal


Os comunistas, e os socialistas portugueses falam dos 229 dias para abater o fascismo em Portugal, desde 9 de Setembro de 1973 até ao golpe de estado militar de 25 de Abril de 1974, isto é, desde o dia em que 136 capitães, tenentes e alferes, transportando-se burguesmente nos seus carros e em carros dos seus camaradas, se reuniram secretamente num palheiro de uma rica propriedade rural do Alentejo, pertencente à família de um deles, para falarem das suas reivindicações profissionais, até ao dia em que eles fizeram o golpe contra a Nação. A História falará dos 229 dias da incubação da traição.

O golpe de estado de 25 de Abril, a que primeiro eles começaram por chamar o «movimento dos capitães» seguindo-se o nome «Movimento das Forças Armadas» («M.F.A.»), terminando por «Revolução dos Cravos» começou por um descontentamento mercenário que abriu fendas na disciplina militar e que, a um certo momento, dada a extensão da indisciplina, procurou revestir-se de uma explicação política conferindo-lhe, aos olhos da Nação, do povo, e do mundo uma aparência de honestidade e de significado nacional. Os delineamentos da crua realidade, o que não chegou ao conhecimento do povo português e do estrangeiro, senão sob aspectos intencionalmente mal definidos, ou muito furtivos ou, moralmente disfarçados.

O número de cadetes, frequentando a academia militar donde saíam os oficiais do quadro permanente, diminuía consideravelmente, o que criava problemas, dada a existência do “terrorismo” no Ultramar. A insuficiência de capitães e de oficiais subalternos obrigava o governo português, presidido pelo prof. Marcello Caetano, a recorrer aos oficiais antigos milicianos, isto é, ao quadro complementar vindos da condição civil, estudantes universitários e alguns tendo mesmo já os seus diplomas de nível superior, os quais já tinham feito o serviço militar, no Ultramar com o posto de alferes.

Eles tinham sido colocados na reserva com o posto de tenentes e, alguns, de capitães. Estes oficiais milicianos, se quisessem entrar no quadro permanente, frequentavam um curso intensivo de dois anos na academia militar, após o qual eram integrados no quadro permanente como alferes graduados em capitães.

Ora, os cadetes da academia militar frequentavam o curso normal de quatro anos que lhes dava o posto de alferes. Havia apesar de tudo um sistema moral de compensações - justificáveis - porque o miliciano acabava o curso intensivo lá pelos 25-35 anos, enquanto que o cadete acabava o curso normal por volta dos 20 anos , o miliciano integrado no quadro permanente entrara na academia militar com uma preparação universitária parcial, ou até completa tendo obtido o respectivo diploma, enquanto que o cadete entrara apenas com uma preparação liceal. O miliciano já tinha passado pelo Ultramar e ia pela segunda vez, enquanto que o cadete, é evidente, não tinha ainda estado lá.

Mas, o que era decisivamente importante, e de uma importância moral inegável, é que a Pátria sustentava uma guerrilha que lhe era imposta, o que justificava medidas transitórias e de circunstância com o fim de suprir a falta de oficiais. Os militares que, após o 25 de Abril e o desastre económico que a sua incompetência provocou, fariam apelo, eles próprios, aos sacrifícios da Nação, não quiseram compreender as graves circunstâncias especiais relativas ao acesso do miliciano ao quadro permanente.

Os militares exigiam, por exemplo, que os oficiais que foram milicianos (e que tinham frequentado a academia militar entre os 25 e os 35 anos), não fossem promovidos a capitães, sem que os oficiais vindos dos cadetes e que terminaram os cursos da academia militar aos 20 anos, não tivessem sido promovidos a capitães. E, falando do «prestígio do exército», das «perspectivas finais» de uma carreira militar «atraente»[1]. Os «capitães» colocaram todo o problema de um modo puramente mercenário: em causa estavam exigências de salários mais deslumbrantes e outras regalias para os seus futuros.

Esta passagem é tirada de um anexo à circular do movimento dos capitães, datada de 23 de Outubro de 1973, isto é, seis meses antes do golpe de 25 de Abril. Até àquela data, a indisciplina ligada às reivindicações mercenárias tinha-se limitado a ameaçar o governo com a demissão colectiva dos oficiais de todas as graduações e de todas as armas, segundo se lê nos n?s 8 e 11 da circular de 23 de Outubro de 1973.

A ideia de defender a Pátria tinha sido posta de lado. Como fazer desta vergonha um caso justificável perante a Nação? Só a partir de 24 de Novembro de 1973 é que o tenente-coronel Ataíde Banazol, que devia partir dentro em pouco, em serviço militar para a Guiné portuguesa, sugere numa reunião de capitães, a viragem do comportamento mercenário ao comportamento político com a ideia de uma intentona contra o Estado. Ele queria que imediatamente se agisse, e apresentou o seu programa que não foi aprovado, mas a ideia de uma politização civil no seio destes militares espalhou-se constantemente: «explicava-se pelo facto de o seu Batalhão seguir para África antes do fim do ano. Mais tarde, já na Guiné, o tenente-coronel Banazol leva a sua impaciência ao ponto de contactar os camaradas do grupo, no sentido de tomar conta de Bissau e fazer negociações directas com o PAIGC»[2].

Tudo isso mostra, antes de mais, a extensão da indisciplina dos oficiais desse grupo que, não contentes em se oporem à maneira pela qual os milicianos eram integrados no quadro permanente, negociavam segundo a lei da oferta e da procura, em que o comprador era o governo que representava a Pátria, a Nação que pagava, e em seguida, mostram o deslizar para a política, enganando os mais ingénuos, através de uma estratégia que, é necessário dizê-lo, não conquistou imediatamente a compreensão de todos os oficiais. O major Sanches Osório, que fez parte desse grupo e, é hoje, um dissidente desiludido e um exilado político, diz no seu livro publicado em Espanha, referindo-se a um momento em que a ideia política estava já lançada, que o major Vítor Alves tinha apresentado um programa que continuava a ser; «uma síntese dessas reivindicações... Já não podia limitar-se ao facto de propor aumentos salariais ou melhoramentos nas condições sociais [condições sociais dos militares]»[3].

Tratava-se já de uma espécie de obsessão ao nível do homem-massa, no pior sentido desta expressão, que se não poderia fazer aceitar à Nação senão através de uma politização. E esta politização não podia deixar de ser a que se opunha ao Estado vigente. Se este regime fosse uma democracia pluralista ou um socialismo, tendo por tanto outro contexto de acção político-social, a indisciplina mercenária militar finalizaria na institucionalização do comunismo com forma de regime autoritário, ou seja, um levantamento militar que atentou contra a Pátria tomando o poder pelas armas. É inegável que o processo da traição desenvolveu-se em duas fases bem delimitadas: o da reivindicação profissional, de 9 de Setembro a 24 de Novembro de 1973, passando á politização, de 24 de Novembro de 1973 a 25 de Abril de 1974.

A prova disso está no facto de os oficiais vindos dos milicianos, e nos quais predominavam as ideias esquerdistas, se oporem às reivindicações dos oficiais vindos dos cadetes da academia militar, uns e outros se insultando mutuamente e constantemente. Os oficiais vindos dos milicianos alertavam a Nação e pediam para os chefes militares tomarem um atitude de firmeza; «para com aqueles que leviana, injustificada, discriminatória e anti-regulamentarmente estão a minar o moral, a cavar fossos, a cortar amarras, a criar castas no seio do exército que tem sido unido e que só de o ser, tem permitido que a Barca Nacional corte rectilineamente os ventos da história»[4].

Notemos neste texto que os seus autores, considerados como sendo os mais esquerdistas, baptizam de ultra-direitistas os oficiais vindos dos cadetes e gabam-se de serem os defensores do Ultramar Português! Por outro lado, os «capitães» chamam «capatazes de guerra» aos milicianos, considerando-os como oficiais de qualidade inferior[5], e reivindicam, também os títulos de principais defensores do Ultramar!: «Mais do que ninguém em Portugal têm desde a primeira hora do conflito em que a Nação está empenhada, contribuído para a sua perenidade»[6].

Tudo isso pertencia, portanto, à fase da reivindicação profissional desencadeada pelos «capitães», em que a linguagem patriótica parecia ser o mínimo necessário para se manter a decência militar. No entanto, o carácter de tipo mercenário das reivindicações comprometia visivelmente uma linguagem de patriotismo e de «prestígio» das forças armadas, precisamente no momento em que a Pátria exigia o sacrifício e a compreensão.

O interesses sobre carreiras profissionais dominou sobre os interesses da Pátria. Praticamente, foi só a partir do mês de Dezembro de 1973 que começaram a orientar as reivindicações «para qualquer coisa de mais vasto, de mais largo do que as simples reivindicações profissionais»[7]. Uma vez que este caminho foi seguido pelo grupo fraccionário, tudo agora vai exibir um aspecto novo.

A infiltração dos oficiais esquerdistas, comunistas, socialistas, vai conduzir a indisciplina mercenária total do movimento (que, aliás, trabalhava já no seu seio a traição) à mais abominável e vergonhosa traição que a História conhece e, é isso que vai conciliar ao nível político, os oficiais milicianos comunistas e esquerdistas e os oficiais do quadro permanente também comunistas e esquerdistas, enquanto que eles se opunham ao nível das reivindicações profissionais.

Mas a Nação na sua enorme maioria não é comunista, e apenas deseja uma democratização segundo o exemplo das nações do mundo ocidental e livre. Mantêm-se portanto certas aparências tácticas através de um plano de mentiras: falar-se-ia ao país e à opinião internacional em termos de uma democracia pluralista (para a parte europeia de Portugal), e de uma autodeterminação descolonizadora (para o Ultramar Português) que seria sistematicamente falseada.

Após a rejeição do programa redigido, ou praticamente redigido pelo major Vítor Alves, o major Melo Antunes, ligado ao «Movimento Democrático Português» (que se transformou em satélite do «Partido Comunista Português»), e que pretendia o abandono puro e simples do Ultramar, sem autodeterminações e sem discussões, abandono simplesmente de territórios e povos, redigiu um novo programa - onde interveio uma comissão constituída por oficiais esquerdistas, nos princípios do mês de Abril de 1974, o movimento dá conhecimento deste programa aos generais Costa Gomes e António de Spínola que sugerem algumas alterações, declarava que a solução no Ultramar era política e de maneira nenhuma militar, do livro do General Spínola[8].

Havia que defender uma solução digna e de uma grande importância histórica, sobretudo após a situação de facto criada pelo 25 de Abril; mas isso opunha-se aos planos de apropriação do movimento dos capitães pelos esquerdistas e comunistas - o que era o essencial para estes, e que estava acima, para estes também, da ideia de Pátria. E assim o trama desenvolveu-se fora do conhecimento da Nação até ao momento em que o movimento das forças armadas tomou o poder e tirou a máscara.

Mas o esboço do processo da traição não apresentaria todas as suas essenciais linhas, se não se falasse do que se sabe do comportamento destes dois generais durante os meses e os dias que imediatamente precederam o golpe de estado: o comportamento do general Costa Gomes com a ideia preconcebida da traição (os factos confirmaram-na) que vai até romper com o seu maior amigo, o general Spínola: e o comportamento deste último general que, pela sua boa fé, pelas suas lamentáveis fraquezas, pela exagerada confiança nele próprio e no seu carisma, julgando-se capaz de dominar e controlar finalmente os acontecimentos, deixou-se apanhar nas armadilhas que os outros lhe arranjaram. Dois meses antes do golpe de estado de 25 de Abril, o general Spínola reafirmou a Marcello Caetano que era: «um militar disciplinado que não participava em conspirações nem dava golpes de Estado», e o general Costa Gomes dizia pessoalmente a Marcello Caetano que este devia: «continuar a fazer o sacrifício de estar no governo».

No dia 14 de Março (mês e meio antes do 25 de Abril), o general Costa Gomes, aderia, como praticamente todos os oficiais generais que foram pessoalmente prestar fidelidade ao governo, ao princípio que as forças armadas deviam subordinar-se à realização dos objectivos nacionais fixados pelos órgãos que a constituição reconhecia; simplesmente «tinha relutância em vir publicamente tomar um compromisso em nome das Forças Armadas sem as consultar, muito embora concordando em que o princípio fazia parte da ética militar (mas, argumentava, por isso mesmo não era preciso reafirmá-lo)», e o general Spínola explicava a sua ausência pela «fidelidade que julgava dever ao seu chefe imediato» que era o general Costa Gomes, chefe do estado-maior general, Spínola sendo o vice-chefe[9].

Ora, desde o dia 5 de Março de 1974, para não citar senão datas incontestáveis ou incontestadas até hoje, Costa Gomes e Spínola estavam já ao corrente do programa do movimento: «a partir desta data iniciava-se um vaivém de cópias do programa para os generais Costa Gomes e Spínola, os quais iam propondo alterações, depois discutidas pela Comissão Coordenadora do Movimento»[10], já no mês de Agosto de 1973 ou, nos primeiros dias do mês seguinte (oito meses, mais ou menos, antes do golpe de estado militar), o general Costa Gomes informou Marcello Caetano que ele tomara contacto directo com o movimento dos capitães (nessa altura tratava-se ainda de um movimento de indisciplina mercenária e de reivindicações profissionais) e que ele lhes assegurara que «tomaria daí por diante a defesa da causa deles»[11].

Estava-se, ainda longe da politização. E, desde os seus começos, o movimento tratava-se ainda, repito-o, de uma indisciplina de tipo mercenário de reivindicações profissionais, tinha certamente uma ligação indirecta com Spínola, através de alguns dos seus adeptos que faziam parte do movimento[12].

Todas estas maquinações são repugnantes, ainda que se saiba que o general Spínola, ao contrário do general Costa Gomes, tinha os seus escrúpulos: emitindo a sua opinião sobre as reivindicações profissionais dos capitães, o general Spínola não deixou de lhes dizer: «que, embora tivessem razão, eles estavam a ultrapassar os limites da disciplina militar, na medida em que se tinham agrupado como força de pressão da base e até pretendiam formar uma «Ordem de Oficiais» e fomentar uma «Associação de Sargentos». Errado - pensava ele - porque, em vez de se acreditar na capacidade de recuperação da estrutura militar, pretendia-se introduzir um processo de «reivindicação sindical» que desarticularia a instituição»[13]. Era o bom senso.

Chegados à fase final da politização do seu movimento de massa - no sentido mais pejorativo do termo -, politização da qual se pôs em evidência a trama, os capitães teriam hesitado entre o general Costa Gomes, que eles achavam, não sem razão, mais sensível aos seus fins e que era já o seu conselheiro[14], e o general Spínola[15], para escolherem aquele que seria o chefe do movimento; mas, graças ao seu incontestável prestígio e finalmente graças ao sucesso que obteve o seu livro «Portugal e o Futuro», a escolha caiu no general Spínola. Logo que venceu o golpe de estado militar de 25 de Abril, o general Spínola tornou-se presidente da junta de «Salvação Nacional», e também presidente da República. Proclamou-se aos quatro ventos que as forças armadas tinham deposto, sem um só tiro, o «fascismo» em Portugal.

Para os entendidos o «fascismo» é um regime totalitário, portanto um regime ditatorial, que, entre outras características fundamentais, tem a seguinte: O regime fascista é sustentado pelo exército, pela força das armas, que, adquirem a preponderância política. Pôr-se-á portanto o problema de saber qual era a espécie de fascismo que as forças armadas depuseram em Portugal, já que não dispunha do seguro aparelho militar de que dispõem todos os fascismos, e não eram politizadas e, que começara já há muito tempo a esforçar-se por pôr o exército à margem da política e do governo da Nação. Propaganda comunista usada para instrumentalizar os incautos.

Com efeito «a partir da promulgação da Constituição Política de 1933 o Dr. Salazar procurou sempre afastar as Forças Armadas da acção política, embora mantendo um militar na Presidência da República como elemento de contacto e como fiador da observância da doutrina do regime»[16]. Esta estratégia era absolutamente oposta aos métodos fascistas, e comunistas, em que a carreira militar, pelo papel que tem na própria defesa dos regimes fascistas, e comunistas, não pode deixar de ser materialmente atraente, bem paga. Havia, certamente, uma polícia política, a «Polícia Internacional e de Defesa do Estado», e mais tarde a «D.G.S.», mas em caso de oposição entre a polícia política e o exército, não se pode de maneira nenhuma dizer que este predominava sobre primeira.

É que Salazar contava com o seu prestígio pessoal. Angola era, então, um grande país, pacífico, próspero e muito rico, em que as populações de todas as cores e etnias confiavam firmemente nas forças armadas a que tinha sido entregue a sua defesa.

Logo após o 25 de Abril, porém, as fronteiras foram franqueadas ao inimigo, os europeus e movimentos que lhes eram afectos foram desarmados, e permitida a livre entrada de tropas e armas para os movimentos terroristas ao mesmo tempo que se determinava, unilateralmente, um cessar fogo que, no dizer de um dos mais proeminentes vultos do movimento, correspondia a renunciar a ganhar a paz aceitando perder a guerra. Nessa altura a FNLA passou a ser abertamente abastecida e municiada pelo Zaire, pelos Estados Unidos, e pela China, a UNITA pela Zâmbia e pela China. O MPLA - comunista - passou a ser abastecido pelas forças armadas portuguesas e pelos países comunistas»[17].

Tudo se passou ao mesmo nível de traição na Guiné portuguesa e em Moçambique, e, de uma maneira mais discreta, ainda que com a mesma significação no plano moral, em Cabo Verde e em Timor[18], como em S. Tomé e Príncipe (territórios onde nem sequer havia terrorismo).

A FNLA - que sucedeu à UPA de sinistra memória - agonizava em pequenos redutos montanhosos do Congo, abandonada pela população, vivendo de abastecimentos e municiamentos que à custa de dificuldades sem conta que o Zaire lhe fazia chegar às mãos. No Leste, pouco povoado, fugindo à animosidade da população local e às forças do exército a UNITA [outro movimento terrorista] arrastava-se de floresta para floresta mercê do auxílio que recebia da Zâmbia. O MPLA [um terceiro movimento terrorista-comunista] tinha umas centenas de simpatizantes na cintura industrial de Luanda.

Normalizar a vida cívica do País implicava, pois, necessariamente, a redução das Forças Armadas ao seu papel de instrumento ou meio de realização dos objectivos nacionais fixados pelos órgãos a que a Constituição desse competência para o fazer»[19]. Assim, contrariamente ao que se passa nos regimes comunistas e nos regimes verdadeiramente fascistas, que não podem subsistir sem a força brutal de um exército ao seu serviço e, por conseguinte, bem paga, em Portugal com o fim da guerrilha no Ultramar a carreira militar tinha deixado de ser atraente; «O exército já não constituía uma carreira de promoção social».

Conclui-se que a condição de vida ou de morte de um regime fascista (ou comunista), isto é, a existência de um exército bem pago, não existia já em Portugal, e o governo português tinha-a descurado ao ponto de provocar as reivindicações profissionais donde saiu o golpe de estado.

O próprio carácter militar deste golpe de estado confirma-o. Em 25 de Abril de 1974 não havia portanto fascismo em Portugal: o que havia, era um regime que continuava a ser paternalista, e onde não tinha cabimento os partidos esquerdistas-comunista que, por ideologia, é anti-democrático e anti-liberal. Se o governo do professor Salazar se mantinha graças ao seu extraordinário prestígio pessoal, apesar de todas as críticas de que foi alvo, e ele estava politicamente acima de um exército, a razão era do grande prestígio do professor de Coimbra.

Pelo medo que a maioria da Nação tinha do futuro, em face a um crescente domínio no mundo pelo comunismo. O paternalismo autoritário que, ao mesmo tempo, se esforçava por não precisar do apoio comprado das forças armadas habituadas, em Portugal. Os espíritos superficiais e facciosos falam, para explicar a facilidade do golpe de estado de 25 de Abril, de um estado fascista «apodrecido»[20]: Em vez de falarem de o que estava podre, e trágicamente podre, era o exército.

É por isso, ainda, que, tendo transformado um movimento de tipo mercenário num golpe de estado político, as forças armadas enganaram a Nação; porque, apresentando-lhe um programa democrático aberto a todos os partidos e a toda a discussão de ideias, ainda que tendo suas lacunas e seus subterfúgios, as forças armadas nada fizeram democraticamente; tudo foi feito demagogicamente, como em todos os fascismos ou em todos os comunismos. Aliás o programa «prestava-se a ser interpretado de diferentes maneiras»: Que o professor Palma Carlos (chefe do primeiro governo provisório) pediu que se lhe explicasse o sentido da «estratégia antimonopolista» inscrita no programa (uns entendiam-na no sentido neocapitalista, e os outros prestavam-lhe um matriz comunista), ninguém lho soube explicar claramente[21].

Tratava-se de uma ambiguidade intencional ou de ausência de ideias precisas? Um ponto que os militares golpistas desejavam era o de não se permitir partidos políticos, mas somente associações, ou movimentos políticos que, mais tarde, poderiam dar origem a partidos. «Este ponto, aliás, é muito claro no Programa»[22]; adivinha-se, aí, a ideia de manter as forças armadas como árbitro permanente da situação política militar: No que diz respeito à imprensa, à rádio, à televisão, ao teatro e ao cinema, o programa põe-nos sob controle das forças armadas, criando uma comissão ad-hoc para impedir e punir (e que foi feito, indo até à suspensão ou supressão de jornais) a «agressão ideológica», isto é, toda a crítica perturbando a opinião pública, isto é, oposta aos militares e, por conseguinte proveniente (assim se decretava) «dos meios mais reaccionários».

O programa, que rendo parecer democrático, está, no seu conjunto, mal elaborado, cheio de lugares comuns, de enunciados intencionalmente vagos ou incompletos, e demagógicos, de uma esperteza saloia que denuncia bem o fim de fazer dos militares-parasitas os únicos amos e os principais exploradores da Nação e dos trabalhadores explorados em regime totalitário. Mas, sem experiência política e, sem cultura política, não puderam libertar-se dos partidos (naturalmente dos partidos de esquerda que visavam o totalitarismo) e, então, por sua vez, os militares foram os joguetes destes partidos e das suas rivalidades.

E tudo foi traído: a Nação, o povo, e a História. E a Nação foi transformada neste pandemónio ao mesmo tempo trágico, grotesco e carnavalesco. Os generais que tinham até então prestígio, pela traição acabaram por serem queimados, e odiados, perderam o carisma, incapazes de salvar o que se poderia ainda salvar! Em todo este processo de traição conduzindo ao 25 de Abril e às suas consequências, é necessário distinguir os militares que bem tiveram consciência da traição cometida, e, foram muitos; os que se deixaram enganar pelas palavras; e os que, sem qualquer convicção política, teriam continuado a olhar sobretudo os seus interesses ligados à Pátria. A ingenuidade, a fraqueza de carácter e a estupidez de uns, fizeram com que eles fossem pastoreados pela ambição e a astúcia dos outros.

Mas a História inexorável julgará a todos segundo as suas responsabilidades e dirá quem, de entre eles, valerá mais. Os factos, propriamente políticos, que dizem respeito à mudança do regime em Portugal, e ao abandono (e sem dignidade) do Ultramar Português e das populações brancas que o fizeram, interpenetram-se; mas foi este último que deu o golpe decisivo na existência histórica de Portugal. Entendo por existência histórica de um país a sua realidade efectiva na História, com a contribuição que este país deu ou dá à cultura e à civilização. Considerando a dialéctica massa-elite (cap. I) no plano das nações, direi mesmo que, uma Nação de existência histórica é uma Nação-elite, contrariamente às Nações-massas às quais falta relevo suficiente e significação especial na História.

Não quero dizer que uma Nação-massa não possui necessariamente homens-elite capazes de contribuir para o progresso da cultura e da civilização do mundo; mas sem homens-elites que façam valer certas circunstâncias favoráveis, nenhuma atingirá, jamais, o nível de uma existência histórica de Nação-elite. Portugal, que tinha uma existência histórica, feita e mantida pela vontade, apenas, dos seus heróis e dos seus grandes homens, foi destruída, ao fim de quase mil anos: "pela vontade dos seus pequenos homens, um bando de crápulas, analfabetos – esquerdistas, e traidores - os militares de um exército podre, que colocaram os seus interesses pessoais, ou salariais acima da Pátria".

Os militares do golpe de estado, e os seus cúmplices ou comparsas comunistas e socialistas, divulgaram, em Portugal e no estrangeiro, que a guerrilha no Ultramar estava perdida, e para sustentarem essa horrível mentira, invocaram até o general António de Spínola. O que é falso: o general Spínola nunca escreveu tal coisa.

Num dos seus livros publicado em 1972, escreveu: «Numa guerra deste tipo de guerrilha, as forças da ordem ganham-na se a não perderem, assim como a subversão a perde se a não ganhar», e alguns meses antes do golpe de estado, no seu livro «Portugal e o Futuro», escreveu: «Às Forças Armadas apenas compete, pois, criar e conservar pelo período necessário - naturalmente não muito longo - as condições de segurança que permitirão soluções político-sociais, únicas susceptíveis de pôr termo ao conflito». A verdade é que nas vésperas do golpe de 25 de Abril de 1974, isto é, «no dia 24 de Abril de 1974, o terrorismo em Angola estava definitivamente esmagado.

Reduzindo abruptamente Portugal a um pequeno território da Península Ibérica, arrancando-lhe o mundo geográfico da sua missão cultural e civilizadora, os militares traidores provocaram o traumatismo nacional da sua demissão histórica, o fim da sua existência histórica, em duas palavras: o fim histórico de Portugal. Vários partidos políticos portugueses associaram-se plenamente a esta traição: os partidos comunistas e o partido socialista. Eles devem ser devidamente estigmatizados. Outros partidos, praticamente calaram-se perante esta traição: devem ser também devidamente chamados ao julgamento da História.

Notas:

[1] Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário Cardoso, O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril (Lisboa, Moraes, 1975), p.332-n.
[2] Sanches Osório, El engaño del 25 de Abril en Portugal (Madrid, Sedmay Ediciones, 1975), p. 23.
[3] Documentos difundidos no mês de Julho de 1973
[4] Anexo à circular de 23 de Outubro de 1973
[5] Exposição dos capitães da Guiné portuguesa, datada de 28 de Agosto de 1973 e dirigida ao presidente da república (Américo Tomás), ao presidente do conselho (Marcello Caetano) e a outros membros do governo. A palavra «perenidade», no texto, refere-se, para ter um sentido, à palavra «Nação» e não a «conflito». Os actuais militares portugueses vindos dos cadetes da academia militar, não sabem, em geral, escrever.
[6] Vid. entrevista de Otelo Saraiva de Carvalho in «Expresso» (Lisboa, 27 de Julho de 1974).
[7] Sanches Osório, ibid., pág. 25.
[8] Id., ibid., pág. 50.
[9] Marcello Caetano, Depoimento (Rio de Janeiro - São Paulo, Record, 1974), pág. 202.
[10] A. Rodrigues, C. Borga, M. Cardoso, O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril (Lisboa, Moraes, 1975), pág. 19.
[11] Marcello Caetano, Depoimento (Rio de Janeiro - São Paulo, Record, 1974), p. 187. - O livro do prof. Marcello Caetano, do qual eu tiro estas notas, respira a verdade dos factos e a honestidade. Rara mente um vencido escreveu um depoimento tão sereno como o do prof. Marcello Caetano; não contém uma única palavra onde trans pareça ódio contra os seus adversários; a palavra mais dura que aí se pode encontrar é a que se refere ao secretário-geral do partido socialista português: era «um apagado advogado… Mário Soares, de seu nome, não representava grande coisa no País - salvo a influência das forças estrangeiras que o manobravam». Depoimento é um livro cheio de interesse histórico escrito por um verdadeiro português e patriota: não se o pode negar, se se quiser ser honesto, mesmo que não se esteja de acordo com as ideias políticas do seu autor.
[12] A. Rodrigues e outros, ibid., p. 269. - Este livro é perfeita mente favorável ao movimento reivindicativo dos capitães, mas o que importa são a exactidão das datas e a objectividade dos factos para uma interpretação objectiva.
[13] A. Rodrigues e outros, ibid., pág. 273.
[14] Id., ibid., pág. 274.
[15] Id., ibid., pp. 333-4.
[16] Renzo De Felice, Comprendre le Fascisme, trad. do italiano por Marc Baudouy (Paris, Seghers, 1975), pág. 25.
[17] Albert-Alain Bourdon, Histoire du Portugal (Paris, P.U.F., 1970), pág. 116.
[18] Marcello Caetano, ibid., p. 202.
[19] A. Rodrigues e outros, ibid., p. 15.
[20] Sanches Osório, El Engano del 25 de Abril en Portugal (Madrid, Sedmay Ediciones, 1975), p. 53.
[21] Id., ibid., p. 53.

Rogéria Gillemans


ANGOLA - DA TRAIÇÃO AO CRIME

O golpe militar comunista contra a Nação, a 25 de Abril de 1974, visava unicamente a sua mutilação e a entrega de Angola ao colonialismo Soviético. A deliberação arbitrária de crime tomada por tropas aos quais nenhum cidadão português lhes conferiu poder, nem autoridade, sobre questões do Estado políticas-civis respeitante às províncias de Portugal no Continente ou no Ultramar. O povo de Angola era alheio a esse desvairo, não foi consultado, os seus direitos indiscutíveis não foram considerados, as leis não foram executadas nem levadas em consideração, não foi ouvido.

E o destino de Angola e de todo o seu povo foi pião de joguete de acordo com simpatias, inclinações políticas, e interesses pessoais dos insurrectos a soldo do comunismo, transformando a Nação numa qualquer sala de jogos aos seus recreios, e a vida de todo um povo em peões de xadrez que foram mergulhados em charcos do sangue derramado pelo crime.

O Governador-Geral de Angola, General-Silvino Silvério Marques, recebeu a 22 de Julho ordem para regressar a Lisboa, saneado do seu cargo por arbítrio de déspotas. Da mesma forma os militares que se encontravam em Angola no cumprimento regular do serviço à Pátria, em Junho de 1974 receberam ordens do MFA/comunista de regresso a Lisboa, que acabou por abrir todas as portas à traição e à guerra — concertada e concluída em Lisboa.

O Exército Português em Angola era constituído por portugueses europeus, euro-africanos e africanos, que destituído ou, saneado, seria substituído por grupelhos saídos de Abril recrutados e trabalhados sobre o molde marxista-leninista, em Lisboa. Indivíduos que no nível intelectual e académico, nas propensões ao crime, no trajar e na falta de asseio eram comparáveis ao Che Guevara com barba de arrumador, que vivia escondido pelos pântanos e matas da Bolívia e, pretendia ensinar qualquer coisa a pessoas cultas e civilizadas do mundo.

A estes grupelhos deram-lhes o nome de militares, uma farda para vestir, e enviaram-nos para Angola ao serviço do MFA e, de Rosa Coutinho comandante de fragata que se auto-promoveu a almirante saltando por cima de várias hierarquias, cujo objectivo era entregar Angola ao colonialismo soviético via cubanos e MPLA. Rosa Coutinho ao chegar a Luanda e após instalar-se no Palácio do Governador-Geral, a sua primeira ordem foi mandar desarmar os corpos institucionais da ordem a (Polícia).

Os primeiros acidentes graves e combates começaram na capital, Luanda, em 1974, após a chegada de Coutinho o "almirante Vermelho" personagem escolhido pela sua índole criminosa, e apoiante do MPLA, contava com o apoio de Mário Soares amigo de Agostinho Neto, e a colaboração dos majores Pezarat Correia, Emídio da Silva, e de um capitão Batalha, figuras sem escrúpulos gratas ao grupo da tropa fandanga, MFA, e à esquerda comunista, e principalmente do comandante Correia Jesuíno mentor e controlador da comunicação social, isto é, das notícias pré-fabricadas para enganar as massas.

A cor política, o ódio, e o desejo de vingança que Rosa Coutinho alimentava contra a FNLA eram bem conhecidos em Luanda. Com efeito, quando à frente dos Fuzileiros como comandante na região do rio Zaire foi capturado por forças de Holden Roberto levado preso para uma base da FNLA do outro lado da fronteira, aonde passou o vexame de ter sido espancado e metido dias seguidos totalmente nú dentro de uma jaula pendurada numa árvore sendo alvo de todo o género de detritos (até fezes lhe atiraravam para cima segundo constou na época) e da risota geral por parte dos elementos da FNLA.

Consta até que a razão maior desse ódio foi porque o estupraram, e em público, dito por um dos seus camaradas dessa época (os relatos desse episódio são omissos em alguns pontos), foi libertado por negociações entre as autoridades portuguesas e a FNLA. Nomeado alto-comissário para Angola após o golpe de 25 de Abril de 1974, não foi o único a favorecer o MPLA na tomada do poder pela força em Luanda acto de traição ao povo, à FNLA e à UNITA. Previsto nos chamados acordos de Alvor ( que mais não foi que um palco de teatro e de falsidade, iludindo todos os portugueses) tinham anunciado a realização de eleições livres.

Leonel Cardoso, (outro canalha) que viria a substituir Rosa Coutinho no cargo de alto-comissário português, e seguiu fielmente as instruções dos seus camaradas comunistas, e desempenhou na prática um papel igualmente pernicioso para o todo o povo e o futuro de Angola. Segundo ainda informações sobre o "almirante Vermelho" um dos maiores responsáveis por tudo o que se passou em Angola, disso não há dúvidas, conjuntamente a Mário Soares e outros canalhas da mesma índole.

Rosa Coutinho depois da "Independência" abriu em Lisboa uma Agência de Recrutamento de Mercenários que durante anos enviou para ajudar o MPLA não se sabe se na formação das tropas, ou, se mesmo para combates ou missões especiais. Ganhou com isso muito dinheiro, (e não foi o único a enriquecer com a guerra em que mergulharam Angola) mas o medo dele sempre foi tal, que até a porta do seu escritório perto do Marquês de Pombal tinha uma blindagem tipo cofre-forte e não andava em lado nenhum sem segurança e sempre que podia ia relaxar o stress para Angola para junto dos seus amigos agradecidos pelo seu excelente "trabalho"... Hoje já velho e caquéctico vive prisioneiro dos seus crimes, quase não sai à rua, não vá cruzar-se com algum que o reconheça e faça ajuste de contas, a última entrevista que deu sobre os seus crimes, foi em pijama na sua residência.

A escolha de Rosa Coutinho feita pelo grupo MFA/comunista e o seu envio para Angola, tinha como objectivo enfraquecer ou, eliminar qualquer foco de reacção da parte da população branca, euro-africana e africana portuguesa que foi surpreendida pelos acontecimentos em Lisboa aos quais eram alheios, e dessa forma pudessem pôr em causa os objectivos em vista quanto à entrega de Angola aos soviéticos através do MPLA, como aliás, foi expresso pelo apátrida Mário Soares numa entrevista ao "Der Spiegel" - Nº 34/1974 - onde explicitou que os militares de Abril enviados para Angola tinham recebido ordens para dispararem sobre a população, em caso de qualquer situação que atentasse contra os objectivos que se propunham realizar os do grupo de Abril, em especial dispararem sobre os portugueses brancos.

Soares que vivia e deambulava alegremente pelas ruas de Paris, (fiel perdigueiro de Álvaro Cunhal que vivia na União-Soviética), e conhecido entre outros adjectivos, como "o homem das mil caras", entre este e Cunhal, ligava-os a mesma doutrina, o mesmo delírio, a mesma ambição sobre a mutilação e destruição de Portugal, os mesmos préstitos e serviços ao estrangeiro (dos quais recebiam pagos), em desfavor de Portugal, e o mesmo ódio contra os portugueses, homens sem escrúpulos que não olhavam aos meios para atingirem os seus fins.

Em Angola desde 1965 a paz estava instaurada, para não ir mais atrás no tempo, (aliás, os massacres ocorridos no mês de Março nos dias 15/16 de 1961 à causa do terrorismo internacional, foram imediatamente controlados) o povo residente, que vivendo e confrontando a realidade, dia-após-dia, e percorrendo o território de ponta a ponta, em funções laborais, férias, ou outras, era, e é testemunha dessa paz, ao ponto que os EUA um dos apoiantes e financiadores desses actos de barbárie, (como grandes perdedores), ficaram de tal forma surpreendidos com a rápida resposta do Exército Português da altura, e a colaboração da parte da população civil na eliminação do terrorismo e controle do território, que procuraram informações sobre as tácticas usadas, que neste caso não coube o mérito só ao Exército Português como, também, à população de Angola incluindo a africana vítima das atrocidades praticadas por negros na maioria estrangeiros, que entraram para Angola só para matar e destruir, e com os quais não se identificava.

Os Militares que continuavam a ser enviados por Lisboa eram como garante e continuação dessa vitória, da paz, e da integridade da Nação (visto que os EUA e a União-Soviética continuavam a visar Angola pelas suas fontes de riquezas naturais) uma percentagem elevada das mortes dos militares ocorridas em Angola, foram à causa de acidentes vários, os registos das causas das suas mortes encontram-se nos arquivos do Estado-Maior do Exército Português, e podem ser consultados.

Não se pode afirmar a existência de uma guerra num território onde toda a sua população vivia, dormia, trabalha com ordem e, em paz, e onde se desenrolada o progresso diário a um ritmo impressionante de ponta a ponta de todo o território, como afirmam de conveniência aos seus interesses, sem pejo e, com descaro os oportunistas criminosos de Abril. A população de Angola aguardava decisões que pudessem levar a uma consulta popular através de (referendo) sobre a decisão dos seus destinos, e do destino de Angola. Mas, a oportunidade oferecida pelos criminosos, assassinos, e traidores dos valores dos homens, ao povo português de Angola foi a guerra, a morte ou a fuga.

O "almirante Vermelho" encobria à população o desembarque em Luanda durante a noite dos técnicos militares soviéticos, e cubanos, nos meses que se seguiram à sua chegada, a população de Luanda testemunhava as suas presenças que transitavam livremente pelas ruas da cidade e davam entrada ou saída do Museu de Angola, transformado em sede do MPLA e residência provisória dos cubanos, enquanto os técnicos soviéticos estavam instalados no Hotel Presidente (junto ao largo Diogo Cão, e da Alfândega do porto, na Av. Paulo Dias de Novais, Marginal de Luanda), passariam a ocupar as nossas casas que eram de imediato requisitadas pelo MPLA umas para Embaixadas outras para residências dos cubanos e soviéticos, há medida que iam ficando desabitadas e fechadas pela saída dos seus proprietários, um mês após a chegada a Luanda do “almirante Vermelho” 1974, no mês de Agosto 34.000 portugueses fogem de Luanda para Lisboa e outros destinos.

A partir do mês de Novembro 1974 os desembarques de cubanos passaram a ser com mais frequência, perfazendo no ano seguinte e 1976 o total de 300.000. Assomando assim a guerra civil que se alastrou a todo o território angolano, e o domínio do mesmo pelas tropas cubanas, e soviéticos a favor do MPLA.

Rogéria Gillemans


A TROPA DE ABRIL – UNIÃO SOVIÉTICA – MPLA

Por estar enfeudado à União Soviética, o MPLA partia com certas vantagens. Devido à sua política em relação à África, a União Soviética não hesitaria em fornecer armamento, e, se necessário, instrutores e mercenários, para que o movimento de Neto pudesse rapidamente guindar-se a uma posição de supremacia sobre a FNLA e a UNITA. E foi o que realmente aconteceu. Os primeiros aviões, vindos do Uganda, aterraram no Luso em Março de 1975, e desembarcaram armamento destinado ao MPLA, perante a passividade do exército português, a quem cabia, na altura, a responsabilidade da manutenção da ordem.

Toda a costa angolana, mas sobretudo a compreendida entre a Barra do Cuanza e o Dande, servia para o desembarque de material, isso com o conhecimento e até com a cooperação das forças militares de Abril portuguesas. A UNITA sabia, à priori, que seria a vencedora de qualquer tipo de eleições. Apesar disso, também tentou rearmar-se, também procurou meios para reforçar o seu potencial militar.

Mas, por nunca se ter enfeudado a qualquer potência, não encontrou aliados e teve dificuldades. Para contrabalançar a ajuda militar soviética ao MPLA, dirigiu-se sucessivamente aos americanos, franceses, ingleses, romenos, jugoslavos e a alguns países africanos. Porém, os seus apelos não tiveram eco.

É verdade que, em dado momento, alguns países africanos amigos se propuseram armar quinze mil homens da UNITA, para que esta, assim fortalecida, pudesse servir de equilíbrio entre rivalidades antigas e ameaçadoras do MPLA e da FNLA. Foi nessa altura, que o então major Melo Antunes, numa viagem feita a Dar-es-Salam e a Lusaka, surgiu a convencer a Tanzânia e a Zâmbia de que ele, Melo Antunes, iria proceder à entrega de quinze mil armas à UNITA. Aqueles países africanos concordaram com essa proposta maquiavélica, que no fundo, apenas visava atrasar o esforço da UNITA de armar melhor as suas forças. Naturalmente que a UNITA nunca recebeu as quinze mil armas prometidas por Melo Antunes.

Recebeu, sim, umas pobres mil e quinhentas G3 no Huambo — entrega que suscitou imediatamente problemas com oficiais portugueses de Abril, que cumpriam em Angola instruções do Partido comunista de Álvaro Cunhal. Com o equipamento moderno de que MPLA se estava a dotar e com a chegada de instrutores e técnicos cubanos para as suas forças já em 1974, não era difícil profetizar que dias amargos e sangrentos aguardavam a independência de Angola! Em Janeiro de 1975, quando da formação do Governo de Transição, já havia cubanos em Luanda. O seu número aumentou em Abril, por ocasião da minha visita àquela cidade. Nessa mesma altura, Massangano já era uma base de treino do MPLA, com instrutores cubanos.

Foi ainda nesse mês, também, que um avião português foi alvejado nos morros de Massangano, o que levou a Força Aérea Portuguesa a encarar a hipótese de uma acção punitiva contra aquela base. Embora desconhecendo-se o seu número exacto, é indesmentível que os cubanos começaram a chegar a Angola em Novembro e Dezembro de 1974.

Mesmo que em Massangano, em Luanda ou numa outra base, os seus efectivos não iam além de uma centena, é lógico que Cuba, cumprindo ordens da União-Soviética a partir de Janeiro de 1975 reforçou esses efectivos. Qualquer argumento que tente justificar a presença de soldados cubanos em Angola como forma de contrapor à intervenção sul-africana, é, pois, redondamente falso, pois não resiste à análise dos acontecimentos.

Só o armamento maciço recebido da Rússia e o treino acelerado ministrado pelos cubanos às suas tropas permitiram ao MPLA recuperar o atraso de que sofria e combater com algum êxito a FNLA e a UNITA. Não seria certamente um MPLA profundamente dividido, com os seus elementos desgarrados, e sem aderentes que poderia de um dia para outro defrontar os outros dois movimentos e conseguir tomar Luanda. Em confronto com o poderoso equipamento militar concedido pela União Soviética ao MPLA, a UNITA apenas recebeu, dos vários países com quem contactou, quatrocentas armas.

Por uma questão de rigor histórico, esclareço que esses países foram a Zâmbia, a Tanzânia, a Roménia e o Congo-Brazzaville. Cada um deles ofereceu-nos uma centena de armas. Mais nenhum outro país a UNITA tivesse disponível o armamento que possui hoje na guerra contra russos e cubanos, nunca por certo teria perdido as áreas que controlava. E talvez tivesse conseguido encontrar, na altura, uma solução política.

Rogéria Gillemans


A "DESCOLONIZAÇÃO EXEMPLAR" ( I )

Luanda Fevereiro de 1975:
Aumentavam os roubos, os assaltos, os saques, a selvajaria. Cujos autores nem sempre eram marginais, mas pessoas que até ao 25 de Abril se comportavam como cidadãos decentes e zelosos no cumprimento do dever e, no respeito pelas relações entre as etnias. Seguiu-se uma campanha desenfreada para explorar o obscurantismo de brancos e negros.

Dizia-se que a FNLA assava crianças, arrancava corações, bebia o sangue dos inimigos, que na delegação da Avenida do Brasil e no quartel do Cazenga tinham sido descobertas salas de tortura, onde se escondiam dentro de frigoríficos frascos com sangue e corações humanos, que havia corpos de pessoas queimadas e mutiladas. A médica encarregada do laboratório da Faculdade de Medicina desmentiu esse tipo de propaganda.

Divulgando que o sangue e os corações pertenciam ao Museu Anatómico. Foi presa ante o pavor dos filhos. A ameaça de greve geral dos médicos salvou-a, libertaram-na, expulsando-a para Lisboa. E, assim, a posição da FNLA tornou-se insustentável em Luanda. — O MPLA com as forças militares portuguesas iniciou um perseguição tenaz na Avenida D. João II, à entrada da Rua coronel Artur de Paiva, "chaimites" da tropa portuguesa disparavam sobre soldados da FNLA que fugiam desarmados e cujo medo era tão grande, que enquanto corriam despiam a farda para mostrarem que estavam indefesos, e que apenas queriam salvar-se. Pretendiam alcançar o bairro do Saneamento onde viviam os ministros da FNLA, e o largo do Palácio na esperança de ali conseguirem protecção.

Na calçada de Santo António, defronte da Rádio Iglésia (Emissora Católica) repetiu-se igual caça ao homem. — A tropa portuguesa abrileira sorria perante o espectáculo —. As balas não paravam de chover. Os mortos lá ficaram, tombados nos passeios ou no pavimento das ruas. Os que viveram foram retirados pela UNITA e levados para as terras donde eram oriundos. *P. 20

Restou à FNLA em Luanda a Fortaleza de São Pedro da Barra, cuja guarnição resistiu durante muito tempo aos assaltos do MPLA. Recebendo reabastecimento à custa de subterfúgios, que ultrapassavam as mentes mais imaginosas. Os militares cercados não se rendiam. Uma ambulância foi destruída e nela morreram enfermeiras e enfermeiros. Granadas explodiram nos depósitos da Petrangol da Refinaria de Luanda. A cidade inteira esteve prestes a sumir-se num mar de labaredas, que nada poderia apagar se o combustível derramado se inflamasse.

Para desespero da FNLA um dos seus representantes no governo provisório o ministro da agricultura, Neto, assinou a rendição dos sitiados, e fugiu para a Suíça onde se juntou à mulher e aos filhos. Os defensores da Fortaleza baixaram os braços e saíram da cidade sem serem molestados pelo MPLA. Constou na altura que a FNLA minara o porto de Luanda, e que o MPLA não poderia receber armamento desembarcado de navios da Cortina de Ferro.

Na Liga Nacional Africana encontravam-se elementos da FNLA aquartelados. Dezenas de guerrilheiros do MPLA tomaram-na por assalto, com metralhadoras nas mãos e granadas presas à cintura circundaram toda a área residencial, os moradores das casas vizinhas trancaram as portas e as janelas, protegendo-se na parte da casa que pensavam ser a mais segura e permaneceram abraçados ou rezavam. Um funcionário do matadouro municipal que tinha sido preso com um filho, foi espancado durante horas por esbirros do MPLA e quando se cansaram de bater, abriram-lhe a cabeça com uma catana. Ao marido de uma escriturária da DGS enrolaram nos testículos e no pénis um rastilho de pólvora, depois de quase o matarem à pancada. Quando se preparavam para lhe atear o fogo um soldado das FAPLA "condoeu-se" e *P. 21

convenceu os camaradas a enrolarem o rastilho e acenderem-no num braço da vítima e, assim se fez. Na barra do Quanza uma criança branca de quatro anos de idade, foi encontrada gravemente ferida pelos golpes das catanas. Sobreviveu porque os assassinos o julgaram morto. Depois de cercarem e assassinarem a golpes de catanas os pais e os membros da família dessa criança, que tentavam chegar a Luanda, incendiaram o carro e atiraram o pequeno para longe.

A criança foi encontrada mais tarde e levada para um hospital de Luanda. O engenheiro Bandeira, administrador da Petrangol, ficou com as pernas e os braços deformados e praticamente inertes, depois das sessões de tortura a que o submeteram. Um pasteleiro do bairro da Cuca foi brutalmente torturado e, obrigado a assistir à violação da mulher e das filhas. Inúmeros homens e mulheres enlouqueceram ou morreram nas masmorras dos muceques.

A criminalidade grassava monstruosamente. Entre os constantes roubos e assaltos, violações e vinganças pessoais, o rebotalho de Luanda cevava ódios e dava livre curso aos instintos mais baixos e selvagens. Os pais passaram a pôr os filhos a dormir nas banheiras dos quartos de banho e, dormiam também aí por ser a parte menos exposta da casa. Nas ruas de Luanda a população organizava-se em manifestações e marchas para pedir ajuda ao governo da Metrópole, mas essa ajuda era negada. Que misericórdia se pode esperar de lobos, que entram num redil? Face aos repetidos insucessos e, ao manifesto desprezo dos governantes, os portugueses de Angola começaram a fazer manifestações junto das embaixadas dos EUA, Inglaterra, Bélgica e Suiça. A população de Luanda e *P.22

de outras cidades ou vilas manifestavam-se em pedidos de ajuda, pediam aviões e navios que lhes permitissem sair urgentemente de Angola. Centenas de pessoas, muitas das quais moradoras no bairro da Cuca, então a ferro e fogo, foram ao Palácio onde Rosa Coutinho se tinha instalado, para pedir ajuda e protecção. A tropa abrileira que o guardava impediu-lhes a passagem. A multidão protestou, reclamou e gritou indignada, mas pouco podia fazer perante a ameaça das armas.

Então, os ânimos chegaram ao rubro. Um grupo de homens lançou-se contra o gradeamento do jardim do Palácio arrancou-o, forçou a passagem e entrou pelas janelas. Um deles, ao ver as armas apontadas e prontas a disparar, gritou num clamor de raiva e desespero: – Se nos querem matar. Matem-nos agora!!! Porque é isso!... Que nos vai acontecer a todos. – É o que esse homem quer!!! – Gritou alguém. A porta de entrada foi arrombada sem demasiada dificuldade e, quando os primeiros entraram no Palácio Rosa Coutinho apareceu e as suas únicas palavras foram: –O que é que vocês querem? Vão-se embora! Perante tal arrogância e prepotência.

Uma mulher, Maria Emília Ferreira, comerciante no mercado do Kinaxixi destacou-se de toda a gente e, dirigiu-se directamente até ele ameaçando matá-lo com as próprias mãos, agarrando-o pela camisa rasgando-a ficou com um botão na mão.

Houve mesmo quem o agarrasse pelo pescoço. Pálido e a tremer de medo Rosa Coutinho saltou para cima da secretária e exigiu a protecção das tropas abrileiras presentes, que já tinham pedido reforços ao quartel-general. Quando chegaram, dezenas armados com metralhadoras em viaturas do exército, o fantoche fugiu por uma janela da parte de trás do Palácio.

Com a fuga do fantoche vermelho, e rodeadas por dezenas de vagabundos militares abrileiros com armas nas mãos apontadas contra elas sob ameaças de dispararem, desta vez com argumentos mais "persuasivos" com disparos para o ar, foram obrigadas a abandonar o local. Enquanto se afastavam, gritavam que haviam de o matar.

E, percorreram as ruas da cidade ao som das buzinas das viaturas ligeiras, camionetes e camiões em manifestação de protesto, revolta e desespero contra a índole criminosa, a tirania e o cinismo deste infame traidor vermelho. A partir desse dia, Rosa Coutinho acoitou-se no alto mar a bordo de uma fragata da Marinha e, nunca mais apareceu em público sem se fazer acompanhar de um pelotão de abrileiros armados. *P.23

(Extracto do Livro, LONGE É A LUA - Memórias de Luanda-Angola, de Rogéria Gillemans, op.cit.,p. 20 a 23).

ISBN 978-989-20-1341-1

Só pode ser reproduzido com autorização por escrito do detentor dos direitos autorais.


A "DESCOLONIZAÇÃO EXEMPLAR" ( II )

Angola de território "cosmopolita português" —, foi transformada num qualquer país africano, passando pelo assassinato de mais de 2 milhões de africanos, (europeus e euro-africanos há mistura), e a destruição das vidas construídas em Angola de centenas de milhares de portugueses europeus. A guerra civil, foi particularmente feroz no interior, empurrando para a capital vários milhões de pessoas. A população de Angola era até 1974 de 5.673 milhões de habitantes, — passou para 15 milhões. Em 1975, as infra-estruturas de águas e saneamento, estavam calculadas para 600.000 habitantes. A cidade abriga hoje 4 milhões e 100.000 habitantes, (números fornecidos pela ONU e pela ACNUR, Handbook on Voluntary Repatration).

Angola desde 1975 vive entre o afro-comunismo e o petro-dólar. Luanda é a cidade mais cara do mundo, a classificação que melhor a define actualmente é: - LIXO, LUXO e COLONIALISMO. A cidade de Luanda não passa de uma gigantesca lixeira a céu aberto. Luanda é um caos onde se misturam sem pudor o lixo e o luxo, as doenças e os milionários, o petróleo e a fome, a miséria e a morte, o abandono das crianças que vivem nos esgotos e o tráfico de drogas e de diamantes.

Por todo o lado existem milhares de mutilados e milhares de diamantes, hotéis de cinco estrelas e milhares de barracas, a miséria e festas milionárias, as minas anti-pessoal por desactivar por toda a parte, e minerais por explorar e, angolanos que morrem à fome. Ao lado de imundícies infectas stands de automóveis de luxo, anúncios de telemóveis e computadores, sistemas de ar condicionado para as casas dos milionários, bares sumptuosos…

Luanda foi transformada numa das cidades mais perigosas do mundo, onde a criminalidade atinge índices alarmantes. A dois passos de distância do fausto, da riqueza, e da ostentação, a podridão e a miséria, as doenças degenerativas, os esgotos a céu aberto, onde as crianças brincam, vivem, e tomam banho, a insalubridade nauseabunda e repugnante... Segundo as estatísticas do governo dos EUA a produção de petróleo em 2005 foi de 1,6 milhões de barris diários ou, seja, a 19.ª do ranking mundial. O salário mínimo é de 50 dólares por mês, 70% dos 15 milhões de angolanos vivem abaixo da linha de pobreza com 1,7 dólares por dia. Certos dados macroeconómicos informam que a inflação passou em 2002 para 350%.

A guerra acabou com a agricultura (não se cultivam mais de 5% das terras aráveis, segundo a FAO) e paralisou a actividade industrial, destruiu a rede de estradas e caminhos-de-ferro e, arrasou áreas enormes. Muitos angolanos acabam de conhecer o dinheiro saído do tráfico de diamantes e cocaína, a corrupção e a violência domina Angola.

A presença de executivos estrangeiros é tão notória que chega a ser insultuosa, os oito hotéis de Luanda (cuja diária ultrapassa 160 euros) estão sempre cheios, e durante a noite nos bares de luxo veêm-se desfilar impudicamente, com atitudes e gestos marcadamente colonialistas.

Quando se pergunta a um natural de Angola: - Como é possível a existência de semelhante barbárie num país tão rico? Temos sempre a mesma resposta: -A população sente-se profundamente revoltada e indignada com o governo e com o regime mas tem medo de falar, o MPLA cortou a cabeça a muitos milhares de angolanos em 1977 e, por isso vive-se entre o terror e a repressão. Por outro lado existe profusão de etnias dos países vizinhos, e de outras raças que se fixaram em Angola colonizada por russos, cubanos, chineses, etc... Actualmente pelos angolanos mais simples do povo não é raro ouvir-se quando encontram um português, "Que a guerra e a pobreza foi a "descolonização" que não acaba".

Falar de paz em Angola é tergiversar a verdade dos factos, em Cabinda a guerrilha de separatismo do enclave é um facto. Como o surgimento das guerrilhas tribais e a revolta dos sobreviventes e órfãos dos massacres praticados pelo MPLA, Russos, e cubanos. Ao longo de três décadas de guerra morreram mais de 2 milhões de seres humanos, 4.1 milhões foram deslocados internos, 436.000 levados para os países vizinhos: Zâmbia, Congo Brazzaville, República Democrática do Congo. O número de mutilados civis resultado de minas anti-pessoal é de 80.000.

Não constam neste relatório as milhares de vitímas que foram selvaticamente espancadas e torturadas, vindo a morrer anos depois, outras tornaram-se vegetativas. Rafael Marques, jornalista e activista dos direitos humanos, natural de Malange, trabalhou para a Open Society Institute em Angola, fez um relatório sobre os direitos humanos em conjunto com Rui Falcão de Campos, onde denuncia a escravatura a que foi submetida a população das Lundas (Malange), onde os lundas são tratados pior que escravos. Refira-se que é em Malange que se encontra a Diamang, a companhia de exploração de diamantes.

(Extracto do Livro, LONGE É A LUA - Memórias de Luanda-Angola, de Rogéria Gillemans, op.cit.,p. 137 a 139).

ISBN 978-989-20-1341-1.

Só pode ser reproduzido com autorização por escrito do detentor dos direitos autorais.


DESCOLONIZAÇÃO, OU CRIME?

Mário Soares: «Descolonização foi óptima». O ex-Presidente da República Mário Soares defendeu hoje que «foi óptima» a forma como os responsáveis políticos do pós-25 de Abril conduziram o processo que, na década de 1970, culminou na independência das ex-colónias portuguesas. «A descolonização foi óptima, foi feita num tempo recorde que admirou muitos países que fizeram descolonizações, como os franceses», disse Mário Soares, no encerramento das Jornadas de Ciência Política promovidas pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

Mário Soares, que então como ministro dos Negócios Estrangeiros foi um dos principais intervenientes no processo, sustentou que a forma como Portugal entregou as suas colónias «trouxe uma confraternização com os movimentos de libertação» que criou as condições para que fosse possível criar a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Na conferência, intitulada «25 de Abril: Ruptura ou evolução na continuidade?», o ex-Chefe de Estado revisitou na primeira pessoa alguns dos episódios que marcaram a «revolução exclusivamente nacional» que em 1975 pôs termo ao Estado Novo. Perante uma plateia repleta de alunos e docentes do ISCSP, Mário Soares lembrou que o «primeiro objectivo» dos protagonistas da revolução era «acabar com a guerra».

In Jornal “O Independente” 24 Outubro 1997.

«Descolonização foi óptima»

A «descolonização foi óptima», sem dúvida alguma, que foi «óptima» para este canalha abortado pelo 25 de Abril, que sobre os cadáveres e o sangue derramado pelo genocídio de milhões de angolanos/portugueses de todas as raças, enriqueceu, caso a «descolonização óptima» não fosse «óptima» para ele não se teria aplicado tanto e com tanto ênfase na rapidez da entrega aos soviéticos dos territórios de Portugal.

«A descolonização foi óptima, foi feita num tempo recorde que admirou muitos países que fizeram descolonizações, como os franceses». No mundo do crime tudo tem a rapidez de relâmpago ( caso contrário nunca aconteceriam crimes ) de acordo com os objectivos dos malfeitores, nos crimes há que não dar tempo a uma reacção, a um pensamento, a organização, à informação, foi assim com o golpe a 25 de Abril de 1974 contra a Nação ( onde o factor surpresa contou como valor acrescido ) e foram assim os acontecimentos em Angola, Moçambique, Guiné, Cabo-Verde, São Tomé e Principe, e em Timor.

Mas, em especial Angola, onde a surpresa e o crime deixou todo o povo traumatizado, perplexo, incapaz de reagir ao mais aviltante acto de traição e crime que pode ser praticado contra uma Nação e o seu povo, e, é assim, sempre que acontecem crimes contra a humanidade, e neste caso foi um crime exegese sui generis e rápido.

«movimentos de libertação» disse o mesmo "iluminado" de Abril. «libertação» de quem?

«movimentos»!? classificar meia dúzia de deslumbrados com os bolsos cheios de rublos, ou de dólares às ordens e mando dos EUA e, da União-Soviética como "movimentos", é dar uma ideia de algo que não correspondia à realidade na vida social de Angola. Que poderão saber os mercenários ao serviço de países estrangeiros, sobre o que trata a liberdade? Sobre a vontade expressa de milhões de portugueses europeus, africanos e, euro-africanos que se viram privados da sua vontade, decisão, e da sua liberdade! Não o sabem, são inaptos, besuntos, para qualificar a liberdade, a Pátria, ou um povo.

Caso contrário teriam que justificar porque razão a liberdade foi reprimida pelas armas e pela guerra ao povo de Angola - português há quase cinco séculos - que, sem liberdade, e, pela força das armas deixou de ser português. Que se viu sem a liberdade do seu uso pleno da faculdade sobre os seus direitos cívicos, para manifestar através do voto a escolha sobre os seus destinos, e o destino de Angola! Nenhum mercenário tem conhecimento sobre a liberdade, nem sobre a dignidade, nem sobre a honra, nem sobre patriotismo, nem sobre o que é uma Nação, nem sobre coisa alguma, os mercenários quando ao serviço e uso dos interesses de país estrangeiro tudo que sabem e vêem são os seus lucros imediatos.

A liberdade foi apenas um estribilho que aprenderam no 25 de Abril para se servirem de acordo com a sua propaganda, conveniente, durante os seus arraiais.

Este indivíduo que desde sempre atentou contra a integridade de Portugal, verborreia sobre o que lhe é desconhecido. Uma Nação tem províncias, tem leis, normas, estatutos, responsabilidades, e um povo participante com o direito indiscutível das decisões a tomar sobre a sua vida, e da terra onde nasceram ou viviam. A política é uma ciência que nunca estudou, e da qual nunca exerceu actividade (salvo as oportunidades ao arbítrio pelo crime contra a Nação).

Uma Nação não é propriamente um quiosque numa qualquer rua de uma cidade de França onde exercia actividade de vendedor de revistas e jornais, como não é da mesma forma um indivíduo que sempre viveu de expediente, e que teve sempre como único objectivo o enriquecimento fácil e rápido (nem que para tal fosse necessário destruir Portugal e sobre a morte do seu povo) que sobre a realidade de Portugal e das suas províncias nada sabia, dado que sempre desempenhou actividades subterrâneas, e sombrias, que se lhe pode reconhecer autoridade moral ou qualquer capacidade para ter tomado parte activa sobre decisões de grande complexidade como uma Nação que era do Minho a Timor, com milhões de portugueses de várias raças e credos.

Viu-se bem o que fez, assim que lhe foi facultado o acesso ao património da Nação. Era o tempo dos terroristas prosélitos de Moscovo, e de outros, que sob promessas de enriquecimento fácil, comprometeram a Nação, e os seus povos e, estes, sem dúvida alguma, foram excelentes discípulos do crime.

Uma independência pode levar alguns anos de entre um referendo ao acto de passagem do poder, existe eleições, a criação de leis adequadas, novos estatutos, novos quadros e formação dos mesmos, o acto de passagem de poderes é uma cerimónia cívica, representada por autoridades legitimadas, e reconhecidas das partes interessadas, ( e nunca por um bando de bandoleiros ) para ser oficial, a presença de autoridades representantes de países estrangeiros e, principalmente, como a participação de todo o seu o povo nascido, criado, ou residente, independente de raças ou credos, fazendo parte integrante do território, e nunca com o seu povo em fuga de uma guerra fratricida.

Em Angola não existiam colonialistas, nem colonizados, existia um só povo-português- como território integrante na Constituição da Nação, e portugueses pela mesma Constituição, só por referendo, em liberdade, e por sua livre escolha e decisão deixariam de ser portugueses, não era o mar que fazia de Angola ser menos Província de Portugal. A Nação era como era há quinhentos anos, e as suas leis não permitiam discriminação entre os seus territórios, e eram para serem cumpridas e respeitadas de igual forma: no Minho, em Angola ou em Timor.

Não se pode confundir uma independência, com o crime realizado em Angola, ao contrário daquilo que o mercenário tomou como exemplo, a França, que tinha colónias e não províncias e, entre umas e outras a diferença distingue-se desde a segregação, à exploração praticada pela França ( e os franceses não eram das colónias, mas estavam por lá, na prática da exploração ), há forma de estar e da convivência fraterna, que nunca foi uma característica do povo francês, nem dos outros povos, ( e mesmo assim com excepção do Congo, ex-Belga, onde os americanos e os soviéticos disputaram entre si a pertença do território, dando origem ao terrorismo internacional, visando Angola ), a independência foi realizada pelos países que tinham colónias em acto de transferência de poderes: cívico, constitucional, em paz e com ordem, e que para tal levou tempo, e os seus exércitos ficaram durante anos, como garante da paz e da segurança aos povos. Rápido só o crime realizado pelo bando de Abril.

Só alguém muito pobre em cultura e com desconhecimento total sobre a realidade de uma Nação, Portugal, ou, que neste caso, ardilosamente deturpa os factos de uma realidade histórica, (próprio de velhaco, de traidor e de canalha) poderia colocar as colónias francesas nos mesmos estatutos das províncias portuguesas, ou colocar a França e os franceses na mesma posição de Portugal e dos portugueses em relação às suas províncias ultramarinas.

Diz ainda: "O «primeiro objectivo» dos protagonistas da revolução era «acabar com a guerra»". Em Angola não havia nenhuma guerra para acabar! Confundir actos de terrorismo ou banditismo (praticados por algumas dezenas de negros na sua maioria estrangeiros oriundos do Congo, Zaire, sobre os quais os angolanos: brancos, negros e mestiços qualificavamos esses actos de puro banditismo) com uma guerra, pela sua pouca cultura e o total desconhecimento sobre a forma de vida, a convivência, e a vivência da população de Angola. A guerra, e única, foi promovida voluntariamente pelos «protagonistas da revolução» não foi o acabar, mas foi o começo da guerra mais longa dos tempos modernos, 38 anos de guerra que produziram não apenas uma tragédia em Angola, mas produziram milhões de tragédias: 2 milhões de mortos, 1,7 milhão de refugiados, milhares de órfãos, 200 pessoas mortas de fome por dia, 80 mil crianças, velhos, homens e mulheres mutilados por milhões de minas semeadas pelo país afora, e a fuga de mais de 600 mil portugueses de Angola deixando para trás todos os seus bens, a terra onde nasceram, todas as suas vidas de construção, de sacrifícios, de investimento que construiriam esse território, até então português.

Em Angola, são milhões de tragédias, cada qual com um nome e uma história de final trágico, mas este Holocausto tem nome: «os protagonistas da revolução» e os seus Sequazes, que após fomentarem a guerra, retiraram em debandada com armas e bandeira embrulhada debaixo do braço, abandonando território e toda a sua população à morte, acto vil de traição e de crime. Angola submersa num imenso charco de sangue é o símbolo no mundo da perfídia, do crime, da incompetência, dos mercenários ao serviço dos interesses de países estrangeiros, e aos seus interesses pessoais.

A responsabilidade do crime concertado em Lisboa contra a Nação e o seu povo, concluído nas províncias ultramarinas, cabe a todos que directa ou, indirectamente, sem distinção, estiveram envolvidos em consciência na prática dos crimes. Mas, muito mais, àqueles que de tudo fizeram para que os crimes fossem realizados, de entre esses, encontra-se este subversor, incompetente e deslumbrado apátrida.

ESTES HOMENS DEVEM SER JULGADOS, TODOS, DE AMBOS OS LADOS E DESDE 1974.

Rogéria Gillemans

Da «revolução exclusivamente nacional», para...«Descolonização foi óptima», concluída com...«trouxe uma confraternização com os movimentos de libertação».


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